Reencontro
Era quarta-feira. O senhorzinho de cabelo grisalho, que todos tinham até certo receio de cumprimentar, se arrumava toda quarta-feira no mesmo horário: às 18h05. Era aposentado e quase não saía de casa, exceto por esse dia da semana. Escolhia a camisa mais bonita e tomava um banho bem tomado. Penteava os poucos cabelos que tinha com o maior cuidado possível, pegava sua bengala e saía caminhando lentamente até a igrejinha perto de sua casa. Queria estar impecável. Já fazia um bom tempo. Um tempo que ele sentiu passar arduamente. Já se passara 10 anos desde que a perdeu. No início, sentiu raiva, melancolia, uma tristeza tão profunda que pensou que morreria. Ela era a sua força, o significado da felicidade. Por dias, ficou estático. Não queria comer, não queria ver ninguém, mal atendia a porta e muito menos o telefone, que tocava tão insistentemente que decidiu tirar do gancho.