Reencontro

Era quarta-feira. O senhorzinho de cabelo grisalho, que todos tinham até certo receio de cumprimentar, se arrumava toda quarta-feira no mesmo horário: às 18h05.

Era aposentado e quase não saía de casa, exceto por esse dia da semana. Escolhia a camisa mais bonita e tomava um banho bem tomado. Penteava os poucos cabelos que tinha com o maior cuidado possível, pegava sua bengala e saía caminhando lentamente até a igrejinha perto de sua casa. Queria estar impecável.

Já fazia um bom tempo. Um tempo que ele sentiu passar arduamente. Já se passara 10 anos desde que a perdeu. No início, sentiu raiva, melancolia, uma tristeza tão profunda que pensou que morreria. Ela era a sua força, o significado da felicidade. Por dias, ficou estático. Não queria comer, não queria ver ninguém, mal atendia a porta e muito menos o telefone, que tocava tão insistentemente que decidiu tirar do gancho.
Percebeu, no entanto, que não poderia se manter daquele jeito. Afinal, ela não gostaria de vê-lo naquele estado, ficaria decepcionada, tinha certeza. Num certo dia, levantou-se lentamente da cadeira em que costumava ficar do lado de fora da casa e caminhou até a igrejinha perto de sua casa. Fez disso uma rotina. Às quartas-feiras, fazia questão de se arrumar para ela. Gostava de pensar que estava indo encontrá-la.

No caminho, contemplava cada detalhe da natureza. A plantinha que nascia entre o concreto, as estrelas brilhantes no céu, os passarinhos que eventualmente apareciam em seu caminho e o som do vento, a parte que ele mais gostava.

Ele já não tinha um sorriso constante no rosto como antigamente. Evitava olhar nos olhos das pessoas em seu caminho. Não fazia questão de ser simpático e não gostava de conversar, como a maioria dos velhinhos. A única coisa que queria estava bem distante de conseguir. Ele a queria de volta, senti-la em seus braços, tocar em seu rosto, ver seus olhinhos castanhos brilhando e não ter mais aquela cama fria e vazia.

Na igreja, era como se tudo isso voltasse. Era como nos velhos tempos. Sentia o calor dela novamente em seu coração. Era o momento em que se lembrava como era sorrir, como era se sentir leve, completo!

Comentários

  1. O desenvolvimento social do Brasil clama por mais produções culturais que partam das mais diversas camadas da sociedade. Continue fazendo sua parte,como agora - e fazendo muito bem! Parabéns!

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  2. Laila, escrever bem pode até ser um dom, mas gostar de escrever é uma virtude, que poucos ousam demonstrar. Exponha-se! Parabéns! Roberto Viegas

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