1999

1999. Foi o ano em que tudo aconteceu. Mariana estava com 21 anos, no auge de sua vida. Nunca estivera tão feliz! Seu namorado, Diego, tinha acabado de pedi-la em noivado. Nem seus pais sabiam da novidade ainda.

Ela, o namorado e os amigos pegaram uma semana de folga no fim do ano e decidiram viajar para o litoral. Era dia 31 de dezembro e eles alugaram uma casa na praia para comemorar o Ano Novo.

Saíram de madrugada. Na noite anterior, Mariana mal conseguiu dormir de ansiedade. Já começava a imaginar como seria os dias por lá.

O motorista da vez era o seu noivo. Ele tinha acabado de comprar seu carro, um Parati vinho. Cheio de orgulho, tratava de dirigir com cuidado. Por ser de madrugada, poucos carros estavam na estrada.

O caminho para a praia era cheio de curvas fechadas. E, apesar da previsão, caía uma garoa fina e a neblina atrapalhava a visão. A estrada tinha duas pistas, com sentidos contrários. Eram separadas apenas pela linha dupla amarela desenhada no chão.

Um Vectra prata vinha atrás a toda velocidade. Um grupo de rapazes da mesma idade dividia uma garrafa de vodka dentro do veículo.

Em uma das curvas, o Vectra tentou ultrapassá-los, mas nesse mesmo instante um caminhão vinha no sentido contrário. O motorista, sonolento, tentou desviar para a esquerda e "acertou em cheio o carro de Diego e Mariana. Não houve sobreviventes no Parati.
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Mariana é minha filha. Ainda me recuso a me referir à ela com verbos no passado.

Quando recebi a notícia, estava tomando café da manhã com a minha mulher. Esperava Mari ligar avisando que havia chegado bem. A ligação que recebi, no entanto, era dos policiais.

A partir daí, mal me lembro do que fiz ou do que aconteceu. Para mim, aquilo tudo não passava de um pesadelo e logo iria acordar. Mesmo semanas depois do ocorrido, ainda tinha o hábito de ir até o seu quarto dar boa noite. Também não perdia a mania de chamá-la para ver um programa interessante que estava passando na TV...

A revolta tomou conta de mim, senti ódio de Deus. Por que Ele tinha que levá-la, e não a mim? A vida não fazia mais sentido. Não queria ver e nem falar com ninguém. Até mesmo com a minha esposa, não conseguia manter um diálogo saudável.

Foi nesta fase da minha vida que aprendi o que é saudade de verdade. É como diz uma música popular, que ouvi certo dia: saudade é arrumar o quarto de um filho que já morreu... 

Passaram-se 14 anos. Em nossa casa, vários quadros com fotografias da Mari enfeitam a casa. No canto de cada cômodo, é impossível não se lembrar de sua infância e da felicidade que nos trouxe quando nasceu. 

Várias vezes, imaginamos como seria a nossa vida se ela ainda estivesse aqui. Pouco tempo depois do acidente, sua amiga nos contou que Mari e Diego tinham ficado noivos dias antes da tragédia acontecer. Todas as noites, sonho com ela transformada em uma mulher bem sucedida, casada, trazendo meus netos para me conhecer...

Hoje, não sinto mais raiva e até Deus reaprendi a amar. A dor passou. A tristeza, eu fiz questão de disfarçar, mas a saudade eu sei que nunca vai passar...

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