Sete dias


Houve silêncio.
Entre uma palavra e outra, curtos espaços. Suficientes para ela entender.
Ela ouvia atentamente as palavras dele ao telefone. Com os olhos marejados e o coração desamparado, ela não podia acreditar. Sentou-se no sofá sem forças e sem saber se conseguiria se levantar.

Enquanto escutava seu nome sendo chamado por aquela voz tão conhecida repetidas vezes, sentia seus pensamentos tão fortes e altos que não conseguia responder. Houve soluços. Houve dúvidas. Houve beliscões para ter certeza de que não era um sonho ruim. Não era. A realidade estava ali. Realmente, estava ali.

Com a voz embargada, assentiu com a cabeça e disse que entendeu. Desligou o telefone sem saber direito onde se segurar, sem saber o que faria dali para frente. Um peso caiu sobre seu corpo, sobre sua alma. Uma sombra pesada. Denis era seu melhor amigo e veio com a pior notícia.

Seu marido a segurou em seus braços. Vendo a palidez de seu rosto, ofereceu um copo de água. Água. Era só água, mas ela não conseguia engolir. Assim como não conseguiu digerir aquela notícia ainda.

Entre uma lágrima e outra, Adriana tentou se levantar e reagir. Não, não poderia ser verdade. Poderia?

Isabela era amiga de infância, assim como Denis. Eles não se desgrudavam. Mas nos últimos meses, ela e Isabela se desentenderam. Não se falavam há algum tempo.

Pouco antes do incidente, Denis tentou convencê-la a ir conversar com ela, a deixar o orgulho de lado e esquecer todo aquele desentendimento, afinal, Isabela já havia tentado conversar com ela pouco tempo antes. Adriana, no entanto, era rancorosa. Na cabeça dele, aquilo tudo nem fazia mais sentido. Adriana, orgulhosa demais, disse que dali uns dias pensaria em conversar com Isabela e resolver a situação, apesar de ela não estar errada. Ela nunca estava errada. 

Passou uma semana. Sete dias. 168 horas. 10080 minutos.

Não importava se ela estava errada ou não. Agora não importava mais, era tarde.
Foi um acidente. Um acidente mais forte que o corpo de Isabela. Enquanto Denis contava os detalhes ao telefone, Adriana só conseguia se lembrar que fora mesquinha demais para ir se acertar com sua amiga. Amiga de infância. Amiga do coração. Irmã de alma. Por uma discussão tão pequena, ela não aproveitou os últimos momentos... 

A vida pode ser muito dura às vezes. E nem sempre há a chance de se reconciliar... A sensação de culpa e de impotência tomou cada pedaço de Adriana. Ela não podia mais se mover. Não podia mais chegar em Isabela e dizer para esquecer tudo e que a amizade era o que mais importava. Nunca mais. 

Passou apenas uma semana. Sete dias. 168 horas. 10080 minutos. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A carta

O segredo

Feliz Ano Novo!