O mundo dos sonhos



Entre um quadrado e outro desenhado no chão, observava cuidadosamente os limites e caminhava pisando dentro deles. Estava um dia bonito, daqueles de céu azulado vívido e sol bem amarelo e brilhante.

Carolina era menina que sonhava o tempo todo: na escola, em casa, na rua, no banho. Era praticamente impossível conversar com ela sobriamente por mais de 5 minutos. Era só dizer algumas palavras e ela já devaneava, perdendo-se no meio do caminho. Afinal, era necessária apenas uma frase para que ela imaginasse diversas situações. Pensava em campos floridos, em ruas movimentadas, em como seria se suas amigas estivessem com ela, imaginava contos de livros em que ela era a personagem principal. Mas nunca, nunca mesmo prestava atenção em uma só palavra dirigida a ela. Sua mãe era a que mais se aborrecia com a tal atitude.

Era tudo faz de conta e parecia que o mundo dela era feito de linhas imaginárias que ela mesma tratava de escrever. Carolina, no fundo, era só mais uma criança cheia de imaginação, mas os adultos faziam questão de cortar todo o poço de criatividade que ela teimava em alimentar.

Uma vez, estava na rua de sua casa brincando com a bicicleta ainda munida de rodinhas para não cair. Sua mãe estava por perto, mas distraiu-se ao encontrar uma vizinha e cumprimentá-la logo em seguida. Quando virou os olhos em direção à pequena Carolina, avistou sua bicicletinha vazia e se deparou com a menina tentando subir em um cachorro grande e negro solto por ali. Nesse dia, sua mãe quase morreu do coração quando ouviu o baixo rosnado do bicho para a menina. Durante a bronca, depois do susto, Carolina contou que imaginou um pônei bonito e queria montar nele. A mãe a repreendeu na hora, abismada por colocar sua vida em risco em troca de um motivo tão tolo como aquele. Disse que ela precisava parar de sonhar tanto e ter um pouco mais os pés no chão, pois já estava virando uma “mocinha”.

Para ela, ainda era criança. Gostava de brincar com suas bonecas e bolava as mais incríveis aventuras para elas. Não queria e nem gostava da ideia de ser a tal “mocinha”. Mas por essa e tantas outras broncas que levou pela mesma coisa, a “mocinha” decidiu aparecer e aos poucos, a menininha sonhadora foi sendo deixada para trás.

Primeiro, começou a ter mais pés no chão, assim como sua mãe “ordenou” várias vezes. Ao menos, era assim na frente das pessoas. Mas, quando fechava a porta de seu quarto, o mundo incrível se criava novamente. Talvez não com a mesma intensidade, mas ela não abandonara aquilo que mais lhe fascinava: o mundo dos sonhos.

Apesar de ter se tornado uma das pessoas mais centradas e presas à realidade, comparada a alguém da mesma idade, Carolina nunca deixou de sonhar. Mas agora, já não devaneava entre conversas. Sabia discernir muito bem a realidade do faz de conta.

As estórias continuaram... Talvez não de uma forma tão real como costumava vivê-las, mas eram conservadas com muito carinho em seus vários cadernos. Só assim conseguia expressar sua tão fértil imaginação, criando vida para cada personagem pelo qual nascia um intenso carinho.

No fim de tudo, abraçando fortemente a ideia de seus amigos e familiares, os inúmeros arquivos guardados frequentavam não só o escuro de sua própria gaveta, mas também, a estante de muitas pessoas que se identificavam com os tantos casos e acasos que ela fazia questão de detalhar. 


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